segunda-feira, 14 de novembro de 2011

educação e mobilidade [ * ]






“A mobilidade no espaço permanece um ideal inacessível a muitos, enquanto é a primeira condição para uma educação real e uma apreensão concreta da vida social. Quanto à mobilidade no tempo, existem duas dimensões muito diferentes inicialmente, na aparência, mas muito estreitamente complementares. De um lado, aprender a se deslocar no tempo, aprender a história, é educar o olhar focado no presente, prepará-lo, torná-lo menos ingênuo ou menos crédulo, torná-lo livre. De outro lado, escapar, na medida do possível, aos constrangimentos de idade é a forma mais autêntica de liberdade. A educação continua sendo a melhor garantia. Em toda verdadeira democracia, a mobilidade do espírito deveria ser o ideal absoluto, a primeira obrigação. Quando a lógica econômica fala de mobilidade é para definir um ideal técnico de produtividade. É o ponto de vista inverso que deveria inspirar a prática democrática. Assegurar a mobilidade dos corpos e dos espíritos o mais cedo e pelo maior tempo possível levaria a um excedente de prosperidade material.

Nós precisamos de utopia, não para sonhar realizá-la, mas para tê-la conosco e nos dar assim os meios de reinventar o cotidiano. A educação deve inicialmente ensinar a todos a mudar o tempo para sair do eterno presente fixado pelas imagens em círculo, e fazer mudar o espaço, isto é, a mudar no espaço, a sempre ir ver mais de perto e a não se nutrir exclusivamente de imagens e mensagens. É preciso aprender a sair de si, a sair de seu entorno, a compreender que é a exigência do universal que relativiza as culturas e não o inverso. É preciso sair do cerco culturalista e promover o indivíduo transcultural, aquele que, adquirindo o interesse por todas as culturas do mundo, não se aliena em relação a nenhuma delas. É chegado o tempo da nova mobilidade planetária e de uma nova utopia na educação. Mas só estamos no começo dessa nova história que será longa e, como sempre, dolorosa.”

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[ * ] Extraído de:
AUGÉ, Marc. “Por uma antropologia da mobilidade”. São Paulo: Editora UNESP e Maceió: edUFAL, 2010; pp. 107-109

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[ Fotos LUGAR SOCIAL / Raul Motta ]

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

ocupa wall rio street cinelândia brasil sou zândrade











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O Inferno de Wall Street

Sousândrade

1 ( O Guesa, tendo atravessado as Antilhas, crê-se livre dos Xeques e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dos desertos:)

— Orfeu, Dante, AEneas, ao inferno
Desceram; o Inca há de subir...
= Ogni sp’ranza lasciate,
Che entrate...
— Swedenborg, há mundo porvir?

3 (A voz mal ouvida dentre a trovoada:)

— Fulton’s Folly, Codezo’s Forgery...
Fraude é o clamor da nação!
Não entendem odes
Railroads;
Paralela Wall-Street à Chattám...

5 (NORRIS, Attorney; CODEZO, inventor; YOUNG, Esq., manager; ATKINSON, agent; ARMSTRONG, agent; RODHES,agènt; P. OFFMAN & VOLDO, agents; algazarra, miragem; ao meio, o GUESA:)

— Dois! Três! Cinco mil! Se jogardes,
Senhor, tereis cinco milhões!
= Ganhou! Ha! Haa! Haaa!
— Hurrah! Ah!..
— Sumiram... seriam ladrões?..

10 (JOANNES-THEODORUS-GOLHEMUS pregando em Brooklyn:)

— Rochedo de New Malborough!
Gruta de Mammoth! A Mormão
Palrar antes foras!
Desdouras
Púlpito ond’ pregou Maranhão!

12 (Dois renegados, católico, protestante:)

— Confiteor, Beecherô... L’Epouse
N’eut jamais d’aussi faux autel!
- Confiteor... Hyacinth
Absinth,
Plymouth was barroom, was bordel!
13 (Ambos em LIEDERKRANZ folgando à confissão:)

— Abracadabra! Abracadabra!
Maomé melhor que Jesus
  Entende a mulher
E não quer
Nos céus quem da terra é a cruz!


14 (Muitos libertadores da consciência, católica, protestante, unitária; CONFUCIUS:)

— Ó prínc’pe Bismarck, aos Jesuítas!
= São Bartolomeu, aos Maçons!
— Aos tais divindades
Trindades!
— Fu! cristofobia em Mormons!


71 (Freeloves meditando nas free-burglars belas artes:)

— Roma, começou pelo roubo;
New York, rouba a nunca acabar,
O Rio, antropófago;
= Ofiófago
Newark... tudo pernas pra o ar...


76 — Herculano, é Polichinelo;
Odorico, é pai rococô;
Alencar, refugo;
= Victo Hugo
Doido deus, o ‘chefe coimbrão’;


57 (GLADSTONE pagando à tesouraria de Washington os milhões da arbitração de GENEBRA:)

— Very smarts! Ô! Ô! Very smarts!
Mas pôs o Alabama pra trás
Aos puffs-Puritanos
Cem anos!
Sobre-rum-nadam fiends, rascáls;



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Fonte:


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[fotos Raul Motta / LUGAR SOCIAL]

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dorme, ninguém

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Nessun Dorma

Nessun dorma!
Nessun dorma!
Tu pure, o Principe,
Nella tua fredda stanza guardi le stelle,
Che tremano d'amore e di speranza!

Ma il mio mistero è chiuso in me,
Il nome mio nessun saprà!
No, no, sulla tua bocca lo dirò,
Quando la luce splenderà!

Ed il mio bacio scioglierà.
Il silenzio che ti fa mio!

[Choir:]
Il nome suo nessun saprà!
E noi dovrem ahimè morir, morir!

Dilegua o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All' alba vincerò!
Vincerò! Vincerò!


Ninguém Durma

Que ninguém durma!
Que ninguém durma!
Você também, ó Príncipe
Em seu quarto frio, olhe as estrelas
Tremendo de amor e de esperança

Mas meu segredo permanece guardado dentro de mim
O meu nome ninguém saberá
Não, não, só o direi na sua boca
Quando a luz brilhar

E o meu beijo quebrará
O silêncio que te faz meu

O seu nome ninguém saberá
E nós teremos, oh!, que morrer, morrer

Parta, oh noite
Esvaneçam, estrelas
Esvaneçam, estrelas
Ao amanhecer eu vencerei!
Vencerei! Vencerei!

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"Nessun dorma" ("Ninguém durma", em italiano) é uma ária do último ato da ópera Turandot, de Giacomo Puccini. A ária refere a proclamação da princesa Turandot, determinando que ninguém deve dormir: todos passarão a noite tentando descobrir o nome do príncipe desconhecido, Calàf, que aceitou o desafio. Caláf canta, certo de que o esforço deles será em vão.

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[ fotos Raul Motta / LUGAR SOCIAL ]